Raros são os locais na metrópole paulistana onde a natureza consegue retomar o espaço ocupado por nossas construções. A histórica Vila Maria Zélia é um desses lugares. Trata-se da primeira vila operária de São Paulo, erguida no começo do século passado na Zona Leste - a mais industrializada na época - e que hoje sofre o abandono de suas construções neoclássicas, com muitas infelizmente já em ruínas.
No colégio de Meninas e o de Meninos, situados um em frente ao outro na mesma rua, diversas espécies de figueiras lutam para se estabelecerem nos telhados e frestas das paredes, com suas raízes separando os velhos tijolos.
Dentro dos edifícios o espetáculo não é menor. Uma floresta urbana cresce com a queda do telhado, apresentando árvores altas e enraizadas nos mais de vinte centímetros de solo originado da matéria orgânica de folhas e galhos decompostos sobre o piso de ladrilhos hidráulicos.
A identificação das plantas vivendo espontaneamente nas ruínas mostra uma composição onde predominam espécies estrangeiras comumente usadas na arborização de calçadas e paisagismo. As plantas da Mata Atlântica, que ancestralmente eram donas do local são escassas, consistindo em algumas palmeiras jerivás (Syagrus romanzoffiana) e pitangueiras (Eugenia uniflora). Esse fato mostra como o desequilíbrio ecológico causado pela preferência de espécies estrangeiras mudou até os processos naturais de formação da floresta nativa.
Para visitar: Rua dos Prazeres, 362, Belenzinho, São Paulo – SP. Fone 11 2692-9791.

Alfeneiros (Ligustrum japonicum) árvores de origem japonesa e disseminadas na arborização paulistana no século passado que formaram uma floresta homogênea dentro do colégio.

No lado direito da foto, convivem uma figueira nativa e outra asiática, tendo atrás uma cheflera da Austrália.

No telhado da igreja, com telhas em ardósia importadas da França, cresce um cedro-rosa (Cedrela fissilis) uma espécie nativa de madeira nobre e difícil de ver sobre edificações.
Ricardo Cardim
