![Seculares, os arcos de pedra resistem junto com a água limpa ao descaso e ameaças.]()
Seculares, os arcos de pedra resistem junto com a água limpa ao descaso e ameaças.
Na mais severa seca da cidade de São Paulo a água continua correndo, transparente, entre dois arcos antigos de pedras, obra provavelmente do século XVIII. Em volta, um grande terreno de 39.000 m² repleto de árvores da Mata Atlântica e trechos de Campos Cerrados em meio ao adensado bairro do Butantã na Zona Oeste.
Esse cenário, em uma cidade preocupada com sua água, meio ambiente e história, certamente seria um parque público para toda a população, mas segue abandonado e ameaçado por lixo, invasões e lançamentos imobiliários, embora o terreno seja tombado desde 2012.
Estudos realizados pela Associação Cultural do Morro do Querosene, que lutou e conseguiu o tombamento do terreno, mostram que possivelmente nessa área existia um ponto de parada de bandeiras e tropeiros na nascente, que fazia parte do antigo caminho indígena do Peabiru, esse anterior ao século XVI.
Observando atentamente a construção dos arcos em pedra que abrigam a nascente e comparando com construções históricas paulistanas ainda existentes, fica nítido que ele pertence a outra época, colonial. Prospecções arqueológicas futuras naquele local poderão certamente fornecer pedaços importantes do passado de São Paulo e Brasil.
![Trecho de Cerrado tipo "Campos de Piratininga" que margeiam o terreno da nascente. Paisagem secular.]()
Trecho do raro Cerrado tipo “Campos de Piratininga” que margeiam o terreno da nascente. Paisagem secular. A planta florida à direita é um araçá-do-campo (Psidium guineense), arbusto frutífero que nomeou o caminho e depois cemitério do Araçá. O capim em floração, uma espécie que quase desapareceu da metrópole (Andropogon leucostachyus) .
Outro aspecto valioso do terreno para a história e meio ambiente da metrópole são trechos preservados de campos cerrados, remanescentes dos antigos “Campos de Piratininga” vegetação nativa que nomeou São Paulo nos primeiros séculos, e que resgatam as paisagens que os antigos viajante de séculos atrás vivenciaram quando paravam na bica.
Argumentos, água e fatos não faltam para justificar a desapropriação da área e entregar esse parque público interessantíssimo e fundamental para a população, o Parque das Fontes do Peabiru.
![Na cidade que corre o risco de secar, água limpa em abundância.]()
Na cidade que corre o risco de secar, água limpa em abundância.
![Outra surpresa no terreno - um pomar centenário com as maiores mangueiras que existem na cidade de São Paulo]()
Outra surpresa no terreno – um pomar centenário com as maiores mangueiras que já vi na cidade de São Paulo, e que estavam carregadas de frutos. Sobreviventes possivelmente de uma antiga chácara do local.
Para mais informações sugiro o site:
http://www.fontedopeabiru.com.br/1135-2/
Endereço do local:
Entre a Avenida Corifeu de Azevedo Marques, Rua Santanésia e Rua Padre Justino (no começo dessa rua tem uma curta rua sem saída com um pequeno portão, a rua da fonte, que acessa o local).
Meus agradecimentos ao pessoal do Rios e Ruas e a Associação Cultural do Morro do Querosene.
Ricardo Cardim