FELIZ NATAL E PRÓSPERO 2015!
O primeiro telhado verde com floresta de Mata Atlântica é em São Paulo
Um desafio importante da sustentabilidade urbana no Brasil é equilibrar a cidade construída com a sua rica natureza original. Ainda distantes desse objetivo, nossas cidades apresentam pouca vegetação e o desaparecimento da biodiversidade nativa.
Como melhorar esse quadro em cidades que foram pensadas para edifícios e carros, e não o verde? Uma solução para regiões adensadas é aumentar a vegetação e seus benefícios através de telhados verdes. Mas não aqueles feitos para a realidade de países frios e com urbanismo de primeiro mundo, mas algo que respeite a realidade brasileira.
Além desse blog, um dos nossos trabalhos é desenvolver métodos que permitam a biodiversidade nativa retornar para as cidades. Depois de mais de cinco anos de pesquisas, conseguimos criar um método inovador para telhados verdes com o máximo de funções ambientais, que reproduz a dinâmica da floresta tropical, e permite uma verdadeira Mata Atlântica na cobertura de prédios com apenas 15 cm de espessura de uma “terra especial” da empresa SkyGarden, e a composição/espaçamento das espécies de árvores semelhante ao natural.

Telhado Verde com paisagismo, plantas nativas e o capão de Mata Atlântica na esquerda da foto. Edifício Gazeta, Av. Paulista.

Com mais de 100 árvores nativas, a floresta recebeu em janeiro de 2014 mudas de 1 metro de altura e que agora tem de 2 a 3 metros.
O resultado são florestas densas e verdejantes de até 3,5 metros de altura, que resistem a ventanias, consomem pouquíssima água, não dão manutenção, podem abrigar diversas espécies da fauna e pesam apenas 300 kg por m², o mesmo que um gramado em terra comum sobre laje. A cobertura diminui até 18° C de temperatura.
O projeto apresentado nessas fotos tem um ano de idade, e foi plantado em uma das coberturas do Edifício da Fundação Cásper Líbero – Gazeta, na Avenida Paulista. Além da Mata Atlântica, conseguimos recriar a vegetação de Cerrado nos telhados verdes.
Não temos outro caminho para a abundância de água, qualidade de vida e saúde pública nas caóticas cidades brasileiras sem resgatar de volta o verde, e o telhado verde com a vegetação nativa pode ser uma ferramenta importante para isso.
Para saber mais:

O microclima que a floresta proporciona pode melhorar muito a questão do calor e água da cidade de São paulo, se usada em larga escala.

Com a tecnologia, apenas 15 cm de espessura são necessários. O baixo peso, de cerca de 300 kg por m², permite o plantio também em prédios antigos.

A cidade de São Paulo em um futuro possível, que harmonize a natureza e cidade, com Mata Atlântica, praças e hortas em suas coberturas. Vida melhor para todos. Crédito: UOL
Ricardo Cardim

Árvores remanescentes da floresta original da Cidade de São Paulo – Copaíba (Copaifera langsdorffi)
Imagens de relíquias vegetais sobreviventes da urbanização paulistana. Em plena Zona Sul de nossa cidade, existem ainda espalhados pelo bairro Granja Julieta, em Santo Amaro, belos exemplares desta árvore tão típica da Mata Atlântica de São Paulo, a Copaíba (Copaifera langsdorffi). Produtora de um óleo reputado como medicinal no interior do cerne, sua madeira é de boa qualidade, outrora muito usada em diversas aplicações. Os frutos possuem no interior uma lustrosa semente preta com um arilo (anexo carnoso)amarelo-vivo inserido, bastante procurado pelos pássaros.
Os exemplares das fotografias ainda conservam seus traços de árvores de mata, provavelmente nascidas quando toda aquela região à beira do Rio Pinheiros era floresta, e testemunharam ao seu redor todo o processo de urbanização.
Ricardo Henrique Cardim

Como era a vegetação da cidade de São Paulo em 1827?
Nesta belo desenho de Debret em 1827, podemos observar a célula-mater de São Paulo e sua vegetação, embora apresentando certa imprecisão, observada da Várzea do Carmo . A colina ainda está coberta de vegetação nas suas vertentes, aparentemente campos e capoeiras remanescentes da Mata primária que existia antes da colonização humana. Vale lembrar que as matas próxima à cidade eram as primeiras a serem derrubadas, devido a grande demanda de lenha para manter os fogos das casas sempre acesos, e com isso, as já sofridas capoeiras eram constantemente perturbadas.
Temos na parte direita inferior da gravura uma arácea, talvez um imbé, com suas folhas em forma de coração, se esparramando no solo. Planta comum nas matas paulistanas, que pode ainda ser observado na Serra da Cantareira, foi muito usada como cordame nas construções da antiga cidade, chegando a ser considerado o substituto do prego no São Paulo dos primeiros tempos.
Na matinha no meio da imagem aparecem algumas possíveis araucárias, árvore bastante descrita pelos viajantes de São Paulo do século XIX. No canto esquerdo, a árvore que ocupa parte do quadro aparenta ser nativa, com trepadeiras abundantes, porém o desenho não permite a sua identificação. Uma hipótese é que o autor desenhou a paisagem de um campo antrópico, isto é, produto da ação humana, sugerido pela presença desta característica árvore de mata com trepadeiras e o imbé.
Ricardo Henrique Cardim
Associação dos Amigos das Árvores de São Paulo

Onde estão os pinheiros do Bairro de Pinheiros?
Pinheiros, um dos poucos bairros paulistanos a ostentar o nome de uma árvore típica da vegetação original da cidade, usualmente mencionada pelos visitantes estrangeiros da antiga São Paulo de Piratininga, sofre de um paradoxo.
Ao caminharmos pelo bairro, não vemos nenhum indivíduo adulto de araucária (Araucaria angustifolia), a espécie de “pinheiro” que o nomeia, a qual provavelmente deve ter existido ali em abundância a ponto de batizá-lo. Porém, no futuro, quem sabe poderemos ter novamente pinheiros para fazer jus ao horizonte da região. Na praça Panamericana, existem cerca de 10 indivíduos jovens, não muito vigorosos, mas que já são um começo. Se a cidade permitir, serão os futuros símbolos do bairro.
Ricardo Henrique Cardim

Construções históricas contam como eram as árvores de São Paulo séculos atrás.
Barro e madeira. Esses eram os materiais disponíveis para construção usados pelos primeiros habitantes do Planalto de Piratininga. A dificuldade de transportes, a escassez de pedras e cal, levaram a adoção de métodos construtivos como a taipa, o barro socado entre duas tábuas, o pau-a-pique, com traves e pilares de madeira entremeados de barro, e a madeira, como opção para os telhados, janelas e tudo mais, disponíveis nas ainda abundantes matas da época.
Poucas são as construções dos primeiros séculos de colonização que chegaram aos tempos atuais. Temos, como exemplo, algumas casas do ciclo bandeirista, o Mosteiro da Luz, a Casa do Grito e Igrejas. Na maioria destas edificações ainda é possível encontrar materiais originais do tempo de sua construção e que resistiram a restaurações e ao próprio passar dos séculos.
A madeira, um material perecível, geralmente é atacada por cupins e fungos, típicos de nosso clima tropical, e apodrece, sobrando apenas alguns fragmentos, ou mais raramente, no caso de algumas espécies mais duráveis em condições ambientais propícias, continuam resistentes durante os anos.
A Botânica, pode, através de estudos macroscópicos e microscópicos, identificar as madeiras escolhidas pelos primeiros paulistanos para edificar suas casas e igrejas. Para isso, bastam alguns pequenos pedaços, e a Anatomia da Madeira, uma parte da Botânica, observa as estruturas presentes dentro da madeira como os vasos por onde a seiva passa, as fibras e outras características, que apresentam diferenças entre as famílias, gêneros e espécies de plantas. Os resultados permitem chegar muitas vezes até a espécie da árvore de onde foi tirada uma peça.
Com essa avaliação, em restaurações ou solicitação de estudos, o madeiramento presente na edificação, torna-se um importante documento histórico, respondendo a perguntas como quais eram as árvores presentes na região, se essas espécies ainda existem, e como eram as técnicas e critérios de escolha de madeiras usados pelos construtores. Todos esses dados ajudam a entender melhor a história da vegetação da cidade e podem ser usados na arborização urbana atual.
Ricardo Henrique Cardim
Associação dos Amigos das Árvores de São Paulo
casa do século 17
parede de pau-a-pique e madeiras
Imagem aumentada de uma madeira histórica com os vasos (grandes vazios de cor branco redondos) e fibras (pequenas células entre os vasos)

Paulistanas ilustres no Parque Villa-Lobos
O verde parece que realmente se estabeleceu no Parque Villa-Lobos. De uma área aberta e sem sombra do começo da década passada, passou-se a um lugar repleto de árvores em diferentes estágios de desenvolvimento, e com um fato raro na arborização da cidade: a presença de muitas espécies nativas.
Muito frequentado pela população, é interessante observar como na parte mais recente de plantio de árvores, perto da marginal Pinheiros, não vemos nenhuma muda destruída ou vandalizada, parece que as pessoas estão realmente aprendendo a respeitá-las e a conviver pacificamente.
Dentre estas pequenas mudas, que prometem belos capões de mata no futuro, gratas supresas nos esperam. Árvores típicas das matas originais da cidade estão muito bem representadas nesses novos reflorestamentos, coisa realmente muito difícil de encontrar nas ruas e parques de São Paulo, ainda mais no caso de áreas que antes não tinham árvores como é o caso do Villa-Lobos.
Araribá (Centrolobium tomentosum), Araçá (Psidium sp.), Embiruçu (Pseudobombax sp.), Cedro-rosa (Cedrella fisillis), Copaíba (Copaifera langsdorffii), Capixingui (Croton floribundus), Dedaleiro (Lafoensia pacari), Jatobá (Hymanea courbaril) e Embaúba (Cecropia sp.) são alguns paulistanos ilustres que andavam ( ou andam?) meio desaparecidos desde a intensa urbanização e agora podem ser conferidos de mais perto.
Flores e fruto maduro do Araçá, árvore antes abundante nos campos naturais e matas de São Paulo, a ponto de nomear até cemitério.
Os lenhosos frutos do Dedaleiro, que depois se abrem liberando centenas de sementes.
Cedro-rosa O aveludado botão de flor do Embiruçu
Ricardo Henrique Cardim
Associação dos Amigos das Árvores de São Paulo

Mata na Cidade de São Paulo tem mais espécies de árvores que toda a Inglaterra
Ricardo Henrique Cardim
Associação dos Amigos das Árvores de São Paulo

Cambuci, outra árvore símbolo de um bairro
Inspirada pelo artigo “Onde estão os pinheiros do bairro de Pinheiros?”, publicado por Ricardo neste blog, eu pergunto: “e os cambucis do bairro do Cambuci?”. Alguns dizem que não existem mais exemplares dessa espécie no bairro, mas li na internet que alguns moradores e empresas têm organizado mutirões de plantio desta árvore símbolo.
Antigamente esta árvore nativa da mata atlântica, atualmente ameaçada de extinção, era muito freqüente principalmente nas redondezas deste bairro que foi um dos primeiros a ter registro oficial na cidade. Foi explorada principalmente para utilização de sua madeira na fabricação de ferramentas e devido ao desmatamento em conseqüencia do crescimento da própria cidade.
Campomanesia phaea (O. Berg) Landrum é seu nome científico, pertencente a família Myrtaceae. Ocorre na Floresta Ombrófila Densa, em São Paulo e Minas Gerais na vertente da Serra do Mar. Seu porte é de aproximadamente 8 m, com folhas simples, semidecíduas e fruto (que eu acho muito interessante e peculiar) verde amarelado de formato que lembra um “disco-voador” (rsrsr) ou um pote de água utilizado pelo índios. Esse último justifica a origem do nome da árvore em tupi-guarani que significa pote de água. Com um perfume intenso e adocicado, os pássaros adoram saboreá-lo, assim como nós humanos in natura e também em forma de geléias, sucos, licores, etc. A floração ocorre de Agosto a Novembro.
Repito aqui a sugestão de Gil Felippe no livro “Frutas – sabor a primeira dentada”. Vamos criar demanda de consumo da fruta Cambuci nos mercados! Dessa forma teremos a disseminação das sementes e a re-valorização da espécie!
Podemos encontrar exemplares de Cambuci no Jardim Botânico de São Paulo. Não percam a oportunidade de fazer esse passeio e conhecer espécies tão interessantes e historicamente importantes como essa!
Encontrei muitas informações sobre o bairro do Cambuci e sua história na internet. Vejam no site do Banco de Dados da Folha
Também achei muito interessante o Festival do Cambuci que acontece todos os anos em Paranapiacaba. Este ano ele já aconteceu em Abril, mas com certeza é um ótimo programa para os próximos anos!
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por Juliana Gatti Pereira do Árvores Vivas
Juliana Gatti

Jerivá, uma palmeira típica da cidade de São Paulo
Talvez a única palmeira nativa presente nos jardins de São Paulo, o jerivá (Syagrus romanzoffiana) não se sabe bem porque, caiu no gosto dos paisagistas e viveiristas desde os primeiros ajardinamentos da cidade, dos fins do século XIX, quando imperava os espaços verdes à moda européia, principalmente inglês e francês. Hoje, é muito fácil ver essa palmeira em todos os bairros com algum jardim na metrópole.
Outrora abundante nas nossas florestas e campos nativos, tanto que denominou o antigo nome indígena do atual rio Pinheiros, Jurubatuba, “local onde existem muitos jerivás”, ainda pode ser visto em praticamente todos restos de matas dentro da cidade, como o parque Volpi, no Morumbi, onde alcança altura maior que a mata circundante na busca de luz, apresentando um elegante estipe, o”tronco”da palmeira.
Produtora de frutos carnosos e adocicados, de coloração amarela, agregados em volumosos cachos, os conhecidos “coquinhos”, são muito apreciados pelos animais silvestres, e em outros tempos eram consumidos pelos índios do planalto e muito úteis para a engorda de animais, tanto que era costume plantar fileiras destas palmeiras perto dos chiqueiros da velha São Paulo.
Devido a suas pequenas raízes, pode ser plantado em locais com pequeno espaço de solo, e é muito indicado para a atração da avifauna, principalmente as maritacas.
Ricardo Henrique Cardim

a palmeira com sua forma caracterísitica. Muitas vezes suas folhas mais velhas são cortadas por jardineiros, mutilando-a sem necessidade

O belo ceboleiro do Viveiro Manequinho Lopes
Antigamente, quando ainda existiam grandes extensões de florestas contínuas no Estado de São Paulo, os agricultores pioneiros ao procurarem terras para plantar, observavam se ocorriam certas espécies de árvores na composição da mata.
O motivo é que estas espécies eram consideradas padrão de terra boa para culturas, e o produtor confiava na presença delas para a escolha do terreno acertado e futuras boas colheitas. Uma destas árvores é o ceboleiro (Phytolaca dioica), nativo da Mata Atlântica.
Nas derrubadas essas árvores eram geralmente poupadas, pois conferiam um atestado de qualidade para a fazenda, algo como um “ISO” do passado. Muitas fazendas de café do interior do Estado ainda apresentam velhos ceboleiros e paus-de-alho ( Gallesia integrifolia, outra espécie também indicadora) em volta dos casarões e isolados nas plantações, testemunhando essa época de desmates.
Um aspecto de grande beleza no ceboleiro é a base do tronco que ocupa grande extensão no indivíduo adulto, algo como um assoalho de raízes, como a árvore da fotografia, um belo exemplar cultivado no Viveiro Manequinho Lopes no Ibirapuera, zona sul da Cidade. Essa curiosa e histórica espécie vale uma visita ao Parque para toda a família.
O ceboleiro, provavelmente nativo da Cidade, pode e deve ser plantada em locais amplos, como praças sem construções perto de suas raízes, podendo se tornar no futuro mais um belo “monumento vegetal” da metrópole, além de atrair e alimentar os pássaros com seus frutos.
Ricardo Henrique Cardim

O paisagismo, a jardinagem de São Paulo e um passeio na floresta
Retornando ao tema do uso de árvores exóticas (não nativas da vegetação original) na arborização urbana e paisagismo na cidade de São Paulo, apresento aqui mais alguns problemas dessas escolhas culturais e estéticas para a nossa vegetação.
Em um breve passeio dentro de um remanescente de floresta nativa na Cidade Universitária da USP, observamos a presença de várias plantas invasoras originárias de outros países e regiões ocupando o espaço das espécies da Mata Atlântica Paulistana. Isso ocorre devido a grande capacidade de competição e falta de inimigos naturais dos vegetais exóticos, descaracterizando a mata e até impedindo sua perpetuação para que as futuras gerações de paulistanos possam vê-la.

nêspera ou ameixa-amarela (Eriobotrya japonica), árvore frutífera originária do Japão, no meio da floresta. Na parte esquerda uma palmeira-seafórtia (Archontophoenix cunninghamiana), outra forte invasora australiana.

O palmiteiro, uma planta quase extinta na cidade de São Paulo
O tão apreciado palmito-doce ou palmito-juçara, largamente conhecido e apreciado na culinária brasileira, já habitou, em um passado não muito distante, as matas que existiam na Cidade, sendo uma espécie praticamente dominante no sub-bosque (estrato da floresta abaixo das grandes árvores). Hoje, poucos exemplares restam, a maioria nos arredores da metrópole, como a Serra da Cantareira, Pico do Jaraguá e Serra do Mar.
Dentro da parte urbanizada da Cidade, os remanescentes de mata já não apresentam palmiteros nativos, e na sua falta, seu espaço foi ocupado pela oportunista palmeira-seafórtia, de origem australiana, que encontrou aí seu nicho ideal para viver e se disseminar, já que as aves adoram seus frutos assim como os do palmiteiro e os espalham ver artigo anterior sobre o tema.
Algumas ações vem tentando salvá-lo da extinção. Na mata do Parque do Morumbi, zona sul, alguns palmitos foram plantados entre as palmeiras australianas com o intuito de recuperar o equilíbrio ecológico perdido.
O sumiço do palmiteiro (Euterpe edulis) das matas paulistanas se deve a um outro fator além do seu delicioso palmito. No passado, até começo do século XX, grande parte das casas de São paulo eram feitas inteiramente ou tinham paredes internas com o sistema do pau-a-pique, onde uma armação de madeira é preenchida com barro, e o tronco do palmito, pela facilidade de dividí-lo em diversas ripas muito retas e resistentes, era bastante utilizado.
Essa palmeira pode ser usada com sucesso em jardins, vasos e complemento da arborização de ruas entre árvores maiores, sendo uma ótima opção estética e ecológica.
Ricardo Henrique Cardim

Mais uma árvore rara ameaçada na Cidade
Outro terreno na cidade de São Paulo com importantes exemplares de árvores remanescentes da vegetação original. Entretanto, neste temos um grande destaque pela raridade do gênero no espaço urbano e beleza da árvore. Trata-se de uma peroba (Aspisdosperma sp.), da família Apocynaceae.
Árvore de madeira considerada de qualidade superior e por isso muito explorada desde os tempos iniciais da Cidade, sendo usada para todo tipo de construção, principalmente para confecção de grandes caibros de telhados, como os encontrados em casas do ciclo bandeirista.
Lembrando, que nas épocas antigas não existiam estradas e muito menos meios para importar madeira de outros locais, então toda a madeira que a antiga Piratininga demandava vinha dos arredores, diferente de hoje, onde usamos farta madeira amazônica. A peroba ainda existir no citado terreno é com certeza uma exceção.
Essa árvore mereceria estar tombada, como testemunho do passado paulistano e detentora de importante patrimônio genético para a formação de futuras árvores que podem ser usadas em projetos de arborização urbana e recomposição de vegetação, antes que mais um “condomínio horizontal” a faça sumir na calada da noite. veja outro artigo sobre terreno com árvores raras
Ricardo Henrique Cardim

As figueiras aéreas na cidade de São Paulo
Nos lugares mais inesperados da nossa “selva de pedra” essa figueira insiste em germinar e crescer. Trata-se da Ficus microcarpa, uma figueira nativa da Ásia, que foi muito utilizada na arborização de ruas, praças e em cercas-vivas de antigos palacetes e prédios públicos na primeira metade do século passado em São Paulo.
Essa espécie de figueira, ao contrário de outra asiática muito disseminada atualmente – a Ficus benjamina – produz sementes viáveis, e tem os pequenos figos muito consumidos pelos pássaros que acabam a espalhando por toda a metrópole. Algumas dessas sementes são depositadas em frestas de edificações e aí brotam, podendo virar grandes árvores e colocar em risco toda a construção, como no caso do viaduto acima.
Também temos figueiras nativas (epíftas) que crescem fora do solo, o popular “mata-pau” da Mata Atlântica, mas esse prefere os troncos de outras árvores perante as construções humanas.
Ricardo Henrique Cardim

É época de floração da paineira em São Paulo
Todo outono em São Paulo tem a coloração rosa e branca das paineiras (Ceiba sp) plantadas pela Cidade. Nas marginais Tietê e Pinheiros elas são muito comuns nos canteiros centrais e descansam a vista daqueles que enfrentam o trânsito de todo dia. Se reparamos, a maioria das árvores da espécie existentes são plantas grandes, adultas, algumas com idade até bem avançada, isso se deve a suas avantajadas dimensões e madeira frágil, o que não a torna aconselhável para calçadas e locais de muitos pedestres ou edificações próximas, e seu plantio na Metrópole vem diminuindo. Fato necessário, mas uma pena…
Ricardo Henrique Cardim

A resistente e centenária figueira-das-lágrimas

Os vários troncos da figueira-das-lágrimas ao centro e, na extrema direita, uma ficus plantada recentemente. Ricardo Cardim
Com o céu azul do mês de abril, resolvi finalmente conhecer a histórica figueira-das-lágrimas situada nos limites de São Paulo, perto da via Anchieta. Chegar lá não é fácil para quem não conhece, e se passar rápido corre o risco de não a vê-la. Escondida atrás de um muro gradeado de aspecto antigo, ela continua lá, lutando.
Seus inúmeros troncos apresentam marcas de uma história mais que secular, com restos ainda de cascas da antiga copa da árvore que caiu na década de 1970 e continuou a brotar até formar uma nova árvore. Seu nome vem devido a ser ali, onde ela está, o antigo limite da Cidade para a despedida dos entes queridos que seguiam pela estrada de terra de Santos até porto, como os militares na Guerra do Paraguai (1865-1870) e os estudantes da Academia de Direito no século XIX.
O viajante Emilio Zaluhar, no seu livro Peregrinação pela Província de São Paulo, de 1862, conta: “Pouco mais adiante do Ipiranga encontra-se uma belíssima figueira brava, cujos galhos bracejando em sanefas de verdura, formam um bonito dossel em toda a largura da estrada (“Caminho do Mar”). É este o sítio das despedidas saudosas. Aqui vêm abraçar-se, e jurar eterna amizade, aqueles que se separam para, em opostas direções da estrada, seguirem depois, e quantas vezes na vida, um caminho e um destino também diverso.”
Na literatura, internet e na própria placa embaixo da planta dizem ser uma Ficus microcarpa, conhecido como Figueira-benjamina ou outra espécie, a Ficus benjamina, a popular “ficus”, ambas da Ásia. Mas vendo de perto suas folhas posso assegurar que a identificação está equivocada, na verdade é uma figueira-brava, como Zaluhar afirmou, e nativa das matas paulistanas. Trata-se provavelmente de uma Ficus gomelleira, espécie de crescimento lento e longeva.
Perto dela foi plantada uma ficus estrangeira (Ficus benjamina), que hoje faz companhia à anciã e confunde quem passa em uma só massa verde. Para visitar: Estrada das Lágrimas entre os números 515 e 530, Ipiranga.
Ricardo Henrique Cardim

A insistência da natureza e ervas não tão daninhas
A natureza não admite se dar por vencida, mesmo na maior cidade do País. Prédios, casas, calçadas, asfalto e, entremeado a isso tudo, jardins enfeitando e trazendo um pouco de verde para a paisagem. Verde artificial, assim por dizer, respondendo a escolhas e gostos das pessoas que o plantaram. Geralmente com canteiros simétricos e desenhados, juntando plantas parecidas e coloridas.
O jardineiro, responsável por sua manutenção, constantemente é chamado para podar, recolher folhas e arrancar ervas daninhas…daninhas!? Quem são essas? As diferentes das plantas compradas. Consideradas prejudiciais ao jardim e sua organização, muitas vezes não podem ser chamadas assim.
Nas calçadas e jardins paulistanos, principalmente naqueles onde o jardineiro não é muito requisitado, parte das “ervas daninhas” são mudas de árvores da Mata Atlântica originais do local onde está a Metrópole, mostrando que a natureza sempre tenta conquistar de volta o terreno tomado. Na fotografia acima, várias mudas de tapiá (Alchornea sidifolia), bela árvore típica de nossa floresta, plantadas por morcegos que gostam dos seus frutos e depois dispersam.
Ervas daninhas…
Ricardo Henrique Cardim

Como era a vegetação original da cidade de São Paulo no passado?

Vista do Ipiranga por Miguel Dutra em 1847. Araucárias adultas sobressaindo nos capões de mata e no fundo a Serra da Cantareira.
Qual era a vegetação original da cidade de São Paulo? Essa é uma resposta que não é fácil de encontrar. Depois de tantas camadas de asfalto, concreto e uma vegetação de origem estrangeira em suas ruas e jardins, o paulistano não tem como responder a essa pergunta sem muita pesquisa.
São Paulo era um ecótono – uma região de transição entre diferentes vegetações – aqui existia um mosaico de formações, e não um tapete contínuo de Mata Atlântica como aquela que vemos na Serra do Mar.
A Mata de Araucária, originária do Sul, o Cerrado, do Centro-Oeste, a Mata Atlântica de Encosta, da Serra do Mar, e a Mata Semi-decídua, do interior do Estado, se encontravam nessa área, em um fluxo de diferentes floras. O resultado foi uma área de grande diversidade de paisagens, e provavelmente de grande beleza. Hoje, raros são os locais dentro da Cidade onde encontramos resquícios desse antigo mosaico.
Ricardo Henrique Cardim

A música das sibipirunas em agosto
Nas ruas de São Paulo bem arborizadas, uma árvore da Mata Atlântica do Norte é comum, a sibipiruna (Caesalpinia pluviosa). Essa espécie de leguminosa produz um fruto(legume) parecido com uma vagem de consistência rígida (lenhosa) que contém em seu interior algumas sementes arredondadas do tamanho de uma moeda de um real.

Os frutos e sementes da sibipiruna. Crédito: Apremavi
Quando chega a época de seca na cidade de São Paulo, de dias ensolarados e céu límpido, um observador atento embaixo das sibipirunas percebe alguns fortes estalos vindos da copa. Esse som rápido e alto, é seguido pelo impacto de um grupo de sementes no asfalto. Tal “sinfonia” nas ruas mais sossegadas do Jardim América, Pacaembú e Cidade Universitária é facilmente percebida.
A causa é o mecanismo de dispersão da sibipiruna, que ao abrir a “vagem”, a faz com violência e gera um impulso para lançar as sementes longe da árvore-mãe, em uma verdadeira estratégia explosiva.

Grupo de sibipirunas na Zona Oeste
Ricardo Cardim
